Marco Zero
Caminhar pela capital paulista e explorar seus pontos turísticos é algo que todo paulistano deveria fazer ao menos uma vez na vida. No último domingo, quando os termômetros ultrapassavam a marca de 30º, me programei e fiz esse passeio com meus filhos pequenos, fomos visitar o Pateo do Colégio e a Praça da Sé. E, o que seria um passeio agradável, me trouxe um sentimento de tristeza e falta de fé nos homens. A sensação que tive, foi a mesma de quando visitei um campo de concentração.
Barracas e barracas de pessoas jovens, crianças e idosas abandonados ao próprio azar. Sim, estou usando a palavra “azar” no lugar de “sorte” neste verbete porque a sorte não faz parte do vocabulário dessa gente. Que sorte?! A sorte de estar vivo e não existir?! A sorte de fazer parte de uma sociedade egoísta que não quer dividir?! A sorte de viver numa democracia que não reage e está na corda bamba?! Muita coisa precisa ser mudada para que esse grupo comece a ter “sorte”! Venho de uma família humilde da periferia. Vivi próximo da pobreza por muito tempo, mas o que vi não é só pobreza, é desumanização, é desrespeito, é crueldade.
Não tive medo deles, também não me senti ameaçado em nenhum momento. Não são bandidos, são pobres renegados por nós. Vi, também, heroicos voluntários distribuindo comida, material de higiene e roupas, mas, isto, por incrível que pareça, talvez não seja a maior demanda desses nossos irmãos.
A solução fria, teórica deste holocausto social, está no investimento de médio e longo prazo em educação de base e distribuição de renda, mas isto não é o que essa população invisível precisa agora. Eles precisam de respeito, precisam ser vistos, precisam de uma proposta de vida, cidadania, existência e decência. Acima de tudo, precisam de futuro!
No mesmo dia de passeio, fomos ao impostômetro na rua Boa Vista e notei que este ano já pagamos quase dois trilhões de reais. Que contrassenso! Terminei o meu roteiro com as crianças me sentindo transtornado, e no final do dia li uma pesquisa apontando que mais de 30 milhões de brasileiros têm uma renda igual ou inferior a um salário mínimo. Onde vamos chegar?
Eu, sinceramente, não sei o que fazer. Entretanto, resolvi começar escrevendo este texto como um alerta aos mais desavisados sobre o que está acontecendo no centro da cidade mais rica do país. Está na hora de sairmos da nossa caixinha e olharmos ao nosso redor. Não podemos mais aceitar ser cúmplices dessa situação desumana, onde a desigualdade grita por socorro, e encontramos os semelhantes em situações absurdamente precárias.
Finalizo este “desabafo” mencionando uma letra de Chico e Vinícius de uma antiga música de garoto: “eu que não creio, peço a Deus por minha gente. É gente humilde, que vontade de chorar”. E convido você a transitar no marco zero de São Paulo, onde tudo começa, ou ao menos deveria começar.
Artigo por Rogerio Bragherolli:
Economista especialista em empregabilidade, com know-how de 35 anos no mercado corporativo, tendo atuado como diretor sênior e vice-presidente de RH em multinacionais. Tornou-se uma notoriedade em estratégias relacionadas a employee experience, gestão de pessoas e carreiras. Em sua trajetória, contabiliza mais de 2 mil entrevistados dos mais diversos perfis e para diferentes cargos de atuação.
Bragherolli é formado em Engenharia Mecânica pela FEI, Economia pela FEA-USP, fez MBA em RH na FGV, especialização em Marketing na Insead – França. Além de ser professor de MBA e ter sido membro do Comitê Global de RH de uma das maiores multinacionais de serviços do mundo.
Rogerio Bragherolli
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